Psicologia
As antigas especulações sobre a alma e a capacidade intelectual do homem foram complementadas desde o século XIX por uma nova ciência, a psicologia, que estabeleceu métodos e princípios teóricos aplicáveis ao estudo e de grande utilidade no estudo e tratamento de diversos aspectos da vida e da sociedade humana.
Psicologia é a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento. Entende-se por comportamento uma estrutura vivencial interna que se manifesta na conduta. O termo psicologia origina-se da junção de duas palavras gregas: psiché, "alma", e lógos, "tratado", "ciência".
A teoria psicológica tem caráter interdisciplinar por sua íntima conexão com as ciências biológicas e sociais e por recorrer, cada vez mais, a metodologias estatísticas, matemáticas e informáticas. Não existe, contudo, uma só teoria psicológica, mas sim uma multiplicidade de enfoques, correntes, escolas, paradigmas e metodologias concorrentes, muitas das quais apresentam profundas divergências entre si.
Nos últimos anos tem-se intensificado a interação da psicologia com outras ciências, sobretudo com a biologia, a linguística, a informática e a neurologia. Com isso, surgiram campos de aplicação interdisciplinares, como a psicobiologia, a psicofarmacologia, a inteligência artificial e psiconeurolingüística.
História
Períodos da história da psicologia. Há formas mais simples e outras mais elaboradas de se distinguirem as fases na história da psicologia. Uma forma simples consistiria em considerar dois grandes períodos: o filosófico-especulativo e o científico. O primeiro tem raízes no pensamento grego e se estende até o final do século XIX ou princípio do XX, conforme o critério escolhido para delimitação do começo da psicologia científica.
Como marco inicial do período científico poder-se-ia fixar um dentre dois momentos: a consagração do método experimental como procedimento possível e adequado à problemática psicológica caso em que Wilhelm Wundt seria seu iniciador, ou o uso sistemático do conceito de comportamento como objeto da pesquisa e, nesse caso, estaria em evidência John B. Watson.
Os filósofos antigos, gregos e medievais procuravam, antes de tudo, dar resposta aos problemas fundamentais acerca da natureza da alma, sua relação com o corpo, seu destino depois da morte, a origem das idéias etc.
Somente com o advento do espírito científico e, principalmente, com a constatação de que há possibilidade de encontrar fórmulas suficientemente precisas entre variação do estímulo físico, mudança fisiológica e reação psíquica, é que começou o trabalho pioneiro de Gustav Fechner, Hermann Helmholtz e Wilhelm Wundt: a psicofísica e a psicofisiologia.
Para Wundt, o objeto da psicologia era a consciência; entendia a ciência como estudo da estrutura ou das funções detectáveis na experiência interior, nos processos psíquicos de sensação, percepção, memória e sentimentos.
A essa concepção da psicologia opuseram-se psicólogos científicos posteriores, em particular os behavioristas, para os quais só pode haver ciência a partir do que é externamente observável (no caso, o comportamento).
Principais escolas de psicologia. Uma das maneiras de classificar as especialidades em que se dividiu a psicologia é segundo os conteúdos examinados por cada área. Assim, as principais disciplinas psicológicas seriam a psicologia da sensação, da percepção, da inteligência, da aprendizagem, da motivação, da emoção, da vontade e da personalidade.
Outra divisão possível se faz segundo o critério de examinar esses mesmos conteúdos quanto a sua relação com o funcionamento do organismo (psicologia fisiológica); ou quanto a sua manifestação no decorrer da evolução (psicologia do desenvolvimento); ou quanto à comparação desses processos nos diversos graus de evolução animal pode esclarecer o comportamento humano (psicologia comparada); ou, ainda, quanto ao condicionamento que esses processos impõem à vida social do homem, ao mesmo tempo que as diversas formas da convivência social influem na manifestação concreta dos mesmos (psicologia social).
Os pioneiros da psicologia científica, Wundt, William James e Edward B. Titchener, se incluem na escola estruturalista, para a qual o importante é determinar os dados imediatos da consciência: as características principais e específicas dos processos de consciência e seus elementos fundamentais.
A corrente funcionalista, à qual pertenciam os americanos John Dewey, Robert S. Woodworth, Harvey A. Carr e James R. Angell, privilegia o estudo das funções mentais, em detrimento de sua morfologia e estrutura. Em vez de investigar somente "o que é", o psicólogo estudará "para que serve" e "como se efetua" o processo psíquico.
Na década de 1910, John B. Watson lançou a corrente behaviorista. Criticava tanto o funcionalismo quanto o estruturalismo, que ele julgava serem demasiado subjetivos e imprecisos e propôs o estudo exclusivo do comportamento (em inglês behavior), ou seja, daquilo que é observável na conduta do homem. Segundo ele, seria cientificamente observável a ação de um estímulo sobre o organismo e a reação deste em face do estímulo. A relação entre estímulo e reação teria seu protótipo nos reflexos incondicionado e condicionado.
Tanto o estruturalismo quanto o behaviorismo clássico procuravam reduzir o estudo da psicologia ao estudo dos elementos do comportamento. Contra essa dissecação da vida psíquica insurgiu-se a corrente fundada por Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler, chamada psicologia da forma ou Gestaltpsychologie. Partindo da investigação das percepções, os gestaltistas formularam o princípio segundo o qual o conjunto dos fenômenos psíquicos apresenta características que não podem ser inferidas das partes isoladamente.
Muitos psicólogos europeus -- como Max Scheler, Frederick J. Buytendijk e Maurice Merleau-Ponty -- seguem a corrente fenomenológica, cujos caminhos foram explorados por Franz Brentano e Edmund Husserl já no século XIX. A fenomenologia em psicologia consiste em captar a vivência do outro diretamente no comportamento onde está incluída a significação do ato. Portanto, os psicólogos devem analisar tal comportamento sem procurar "atrás" dele o fenômeno psíquico, mas tentando descobri-lo no próprio fenômeno, pois o mundo fenomenal pode ser analisado diretamente, por ser um dado tão imediato quanto o "eu".
Métodos e técnicas. Os métodos científicos da psicologia podem ser divididos em três grupos: experimentais, diferenciais e clínicos. Os métodos experimentais, oriundos das ciências físicas, têm por princípio a variação de um fator, o fator causal também chamado variável independente, mantendo constantes todas as outras fontes de influência. Observar-se-ão, assim, as modificações produzidas na variável dependente. A tarefa fundamental do psicólogo será, de um lado, encontrar medidas precisas quanto às variações das variáveis independente e dependente, e, de outro lado, controlar todas as outras variáveis para que seu efeito possa ser considerado como constante.
Em certos casos, como no estudo do desenvolvimento dos fatores da inteligência, da personalidade etc., o psicólogo não pode variar diretamente o fator que deseja estudar. Recorre então ao método diferencial. As diferenças individuais constituirão a variável propriamente dita; as outras condições, e mesmo as provas às quais os indivíduos serão submetidos, ficam constantes.
Enquanto os dois métodos citados permitem estabelecer leis gerais, o método clínico se propõe compreender o indivíduo em sua situação particular ou pretende aplicar as diversas leis gerais a casos individuais. Seu uso é indispensável no diagnóstico da personalidade. Para o conhecimento preciso de determinados fenômenos psicológicos, muitas vezes os três métodos devem ser empregados conjuntamente.
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